Quem vê a Fantástica Fábrica, depara-se com um monstro cinza numa cidade cinza, onde apenas tem calor numa casa engraçada e desengonçada, suja e caída; visivelmente uma brincadeira com o nosso lúdico de desestrutura externa, mas dentro tinha tudo aquilo que no resto do mundo não tinha: cor.
Talvez por isso que a tal fábrica era tão idealizada; ela era grande e distante, mesmo estando no meio da cidade. poucos podiam estar ali e viver ela, e mesmo os que podiam, poucos sabiam o fazer. Mesmo os que queriam, poucos sabiam o fazer. Sabe como é... cor demais num mundo cinza pode apavorar.
E certamente queremos sempre ver o objeto majestoso e misterioso por dentro, mesmo que normalmentre não saibamos dar o devido valor. Assim como flores, a maioria das coisas precisa de amor para brotar da forma como desejamos, e não sei se há, hoje, amor o suficiente no mundo para ferilizar um solo há tanto tão árido.
Certamente não serão os Zacarias em miniaturas ou cascatas de chocolates quem fazem o mundo encantado, nem mesmo cogumelos de bolotas ou algodões doces de lã rosa. Olhar simploriamente essas coisas podem apenas danificar a noção de realidade, ou abalar a veracidade ou a confiança de quem expõe tais verdades.
Verdade? Mas que verdade?
A verdade de que não há uma verdade. A verdade de que não se sabe mais o que faz a Terra girar; que a ciência não mais explica tudo, bem como a infância acaba cada dia mais cedo e os sonhos não existem mais. Eu nem a noite sonho mais; é raro.
A verdade que dizia-se que o amor fazia o mundo girar, depois virou a esperança, depois o dinheiro, e agora não se fala mais, porque é mais fácil uma explicação científica do que uma metáfora social. A verdade, enfim, é que a palavra e o valor pessoal, cada dia mais, tem um preço, e cada um tem o seu. (Qual o seu??? )
Não sei... poderei criticar as mocinhas de todos os filmes antigos por toda a minha vida. Poderei criticar o menino da casa ácida e caída. São todos lentos e conseguem passar de personagens principais a secundários por opção, e isso, honestamente, é perder-se num Big Shot... mas eles estão certos em uma coisa: nunca se traíram, nem traíram suas convicções. Sabiam o que suas estruturas suportariam. Não se venderam jamais para um sistema qualquer.
E o mais interessante: eles podem ter
qualquer vida, em qualquer filme, qualquer ação: nunca viverão numa cidade
cinza. Sempre será quente e acolhedor.... Queria eu também ter uma casa suja,
angulosa e ácida, onde a sopa de repolho fosse bem aguada e todos soubessem pelo
que estão lutando...